terça-feira, 25 de maio de 2010

JEFTÉ UM LIDER COM MARCAS PROFUNDAS

Analisaremos um personagem bíblico importante, cuja história não passa despercebida, não por causa das suas virtudes, das suas conquistas ou de qualquer característica louvável de sua personalidade, mas por causa de suas ações inconseqüentes, insensatas, irresponsáveis. Fruto de uma personalidade descom-pensada e ferida.

Estamos nos referindo a Jefté, um dos juízes do povo de Israel. Portanto, o crédito desta mensagem é do Espírito Santo. A história de Jefté está registrada no livro dos (Juízes capítulo 11).

Desde a morte de Josué, sucessor de Moisés, até a escolha de Saul como rei, o povo de Israel foi governado por 16 juízes: OTNIEL, EÚDE, SANGAR, DÉBORA, BARAQUE, GIDEÃO, ABIMELEQUE, TOLA, JAIR, JEFTÉ, IBSÃ, ELOM, ABDOM, SANSÃO, ELI e SAMUEL.

O que faz Jefté destacar-se dos outros juízes? A sua obsessão pelo sucesso. A coisa era tão forte que numa das suas campanhas de guerra, ele fez um voto a Deus: “Se o Senhor fizer com que eu vença os amonitas, eu sacrificarei aquele que sair primeiro da minha casa para me encontrar quando eu voltar da guerra. Eu o oferecerei em sacrifício a ti”.

Que tipo de pessoa faz um voto imprudente como esse? O que o motivava a pôr em xeque a vida de alguém da própria família? Que vitória pessoal compensaria a morte de um ente familiar?

Para compreendermos Jefté, precisamos ir aos bastidores da sua existência, e descobrir a origem de seu desequilíbrio psicoemocional. Todo problema tem uma causa. Vejamos qual a causa do desequilíbrio de Jefté. (Juízes 11.1):

Jefté, da região de Gileade, era um soldado valente. O seu pai se chamava Gileade, e a sua mãe era uma prostituta. Temos aqui duas realidades, dois pratos de uma balança: No primeiro prato, temos:

(a) um homem nascido em Gileade (a terra do bálsamo; um lugar abençoado e conhecido como “lugar da saúde”).

(b) um soldado valente; um grande guerreiro; um homem com um potencial tremendo de liderança. No segundo prato, temos um porém: (a) ele era filho de uma prostituta. É neste porém que a vida de Jefté se descompensa.

E conforme podemos observar ao longo de todo o (capítulo 11 de Juízes), todas as ações de Jefté, todas as suas escolhas e decisões giram em torno deste “porém”. “Jefté estava debaixo de um terrível legado de rejeição e imoralidade.

Um homem maldito e discriminado. Literalmente, era a expressão da vergonha do adultério do pai e da prostituição da mãe. O texto prossegue mostrando o desenrolar do trauma de Jefté: (Juízes 11:2-11).

“A esposa de Gileade também teve filhos. Quando cresceram, eles expulsaram Jefté, dizendo: – Você não vai herdar nada do nosso pai porque é filho de outra mulher. Jefté fugiu dos seus irmãos e foi morar na terra de Tobe. Lá alguns homens ordinários se juntaram a ele, e andavam juntos. Algum tempo depois os amonitas foram guerrear contra o povo de Israel.

Quando isso aconteceu, os chefes de Gileade foram buscar Jefté na terra de Tobe e disseram: Venha com a gente e seja o nosso chefe na guerra contra os amonitas. Jefté respondeu: – Eu sei que vocês me odeiam; e odeiam tanto, que me fizeram sair da casa do meu pai. Como é que vocês vêm me pedir ajuda, agora que estão em dificuldade?

– Nós viemos falar com você porque queremos que comande todo o povo de Gileade na luta contra os amonitas! – responderam eles. Jefté disse: – Se me levarem de volta para casa a fim de lutar contra os amonitas, e se o Senhor Deus me der a vitória, eu serei o governador de vocês. Está certo? Eles responderam: – Sim.

Nós faremos como você diz. O Senhor é a nossa testemunha. Aí Jefté foi com os chefes de Gileade, e o povo o colocou como governador e chefe. E em Mispa, na presença do Senhor, Jefté fez o povo jurar que faria tudo o que havia sido dito.”

Além da vergonha, Jefté teve ainda que lidar com a rejeição: primeiro dos irmãos por parte de pai, depois dos líderes da cidade. Neste ponto já podemos entender por que “bem estar familiar” não era uma preocupação para Jefté porque ele não sabia o que era isso.

Mas o problema de Jefté não estava circunscrito a um traumazinho familiar, mas a um terrível drama existencial calçado num profundo sentimento de rejeição que diuturnamente golpeava a sua alma. Não deixemos de ver a indiferença do pai de Jefté diante de todos os dramas vividos por ele.

Enquanto Jefté sentia as conseqüências da imoralidade do pai, este nada fazia para pelo menos amenizar a sua dor, aumentado assim o seu drama: Pois além da rejeição ativa dos irmãos, ele ainda tinha que lidar com a rejeição passiva do pai. Jefté foge. Vai embora de casa. Abandona o lar.

Abertamente, responde a rejeição com rebelião. Ao fugir do linchamento emocional, Jefté leva consigo a dor da rejeição. A fuga é o escape dos que perderam a capacidade de lutar. Jefté vai para Tobe. A terra da orfandade; lugar para onde iam os renegados, os marginalizados. Os homônimos se atraem.

“lá alguns homens ordinários se juntaram a ele, e andavam juntos”. Algum tempo depois, diz a Bíblia, os líderes de Gileade se viram diante de uma guerra contra os amonitas e, como não dispunham de liderança militar corajosa e valente, vão buscar Jefté. Observe o diálogo entre eles nos versos 7 a 11 de Juizes.

Jefté ainda tenta espremer a ferida, mas os líderes da Gileade preferem seguir outro caminho: o da bajulação, do massageio de um ego ferido. Eles sequer ouvem as queixas de Jefté e já vão dizendo: “queremos que você seja o nosso líder”.

Doente e descompensado, Jefté vê naquela proposta uma oportunidade ímpar de dar a volta por cima, de ir à desforra contra aqueles que o machucaram tanto. Então faz uma proposta para eles: “se Deus me der a vitória e me torno o governador de vocês”. É nesse contexto que Jefté faz a mais famosa e irresponsável de todas as promessas:

“Se o Senhor fizer com que eu vença os amonitas, eu sacrificarei aquele que sair primeiro da minha casa para me encontrar quando eu voltar da guerra. Eu o oferecerei em sacrifício a ti”.

Jefté só tinha uma filha. E foi exatamente ela quem saiu primeiro ao seu encontro. E a desgraça caiu sobre toda a família. A vitória de Jefté fracassou.

CONCLUSÃO

O QUE ESSA HISTÓRIA NOS ENSINA?

1) Não é o lugar que faz a pessoa, mas a pessoa curada que faz o lugar. Nascer e viver em Gileade, terra da cura, não fez de Jefté um homem saudável. Do mesmo modo, viver dentro de uma igreja ou comunidade de fé não nos tornará saudáveis se nossos problemas existenciais não forem encarados, reconhecidos e resolvidos.

2) “Vitórias internas precedem vitórias externas” – Com a alma descompensada até podemos conseguir uma vitória aqui e outra ali, mas não conseguiremos mantê-las por muito tempo nem desfrutar plenamente delas.

3) Qualquer oportunidade que nos leva a ignorar conflitos não resolvidos é potencialmente perigosa. Antes de aceitar o convite dos líderes de Gileade, Jefté precisava resolver os conflitos e os traumas emocionais. Então ele iria agir pelas razões certas. E seria dirigido por um propósito saudável e não pelas carências da sua alma adoecida.

4) Fugir do problema no mínimo só o agravará mais. Quando diante do linchamento moral e emocional, Jefté decide fugir para Tobe, a cidade dos rejeitados, o que ele encontra não é a solução, mas a ampliação das suas feridas:

“Homens ordinários se juntaram a ele”. A Bíblia descreve isso como “um abismo que chama outro abismo” (Sl 42:7/RA).

5) Deus não vai intervir em nossas decisões, por mais estúpidas que pareçam, nem vai cancelar os votos que fazemos a Ele, por mais inconseqüentes que sejam, para que aprendamos a agir com responsabilidade. Em (Eclesiastes 5:4) a Bíblia diz: “Assim, quando você fizer uma promessa a Deus, cumpra logo essa promessa. Ele não gosta de tolos; portanto, faça o que prometeu. É melhor não prometer nada do que fazer uma promessa e não cumprir”.

Nossos conflitos e traumas se não resolvidos, resultará em uma ferida cada vez maior e consequentemente colocará vidas de pessoas que amamos em situação dificil. Que possamos nos examinar, pedindo a Deus que nos sonde e nos mostre quem verdadeiramente somos.

Mesmo que sejamos confrontados com algo que não queiramos admitir. Mas para sermos curados precisamos enfrentar o processo terapeutico de Deus.

Que o Senhor Jesus os abençoe.




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