quarta-feira, 21 de novembro de 2012

COMO SABER QUEM SOMOS?



"...Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais" (Lc 19.8)

 Freqüentemente muitos se sentem "perdidos" no mundo, sem saber muito bem quem são, para que nasceram, o que Deus espera deles. Isso se deve a um não conhecimento de si mesmos, uma alienação existencial que os impede de tomar uma posição, atitude e decidir sobre a sua vida. O conhecer-se a si mesmo, desde a Antiguidade, é uma busca essencial para uma libertação pessoal. 

Porém, como cristãos, entendemos que o conhecimento de nós mesmos, se não passa por Cristo, está eivado de distorções, pois uma auto-análise nunca é isenta e imparcial - ou há uma rejeição do ser, julgando-se um fracassado, um incorrigível, um incapaz, o que normalmente leva a um conformismo e acomodação com o seu "destino", ou, por outro lado, podemos incorrer no erro de supervalorizar nosso eu. Julgamos então, mais do que realmente somos. Daí advém o orgulho, o preconceito, a vaidade, a fantasia exagerada de si mesmo. Faz-se necessário um "conhece-te a ti mesmo" que passa por Cristo.

Ele vai dizer quem somos, vai mostrar nossas qualidades, mas também nossas fraquezas, vai revelar nossas mazelas, nossos medos interiores, nossas incapacidades, nossos limites, vai mostrar o porquê dos nossos impedimentos e recalques. Não adianta apresentar a Deus um "falso eu", pois Ele nos conhece muito bem e sabe quem somos. Por isso mesmo, Jesus não olha para o "rótulo" de ninguém. Seja rótulo de "santo" ou de "prostituta"... Jesus é o único capaz de olhar além das aparências. E, ao nos confrontar com o que de fato somos, nos leva a uma "crise" entre o que "eu pensava que era" e o que Ele está agora me revelando que sou. Bendita crise. 

A origem da palavra crise vem do grego "krísis" e significa purificar, limpar; daí existir no português "crisol" e "acrisolar". A crise age como um crisol, purifica. Toda situação de crise, para ser superada, exige decisão. Passamos por diversas situações de crise na vida: a crise do nascimento, a crise da puberdade, a crise da meia-idade... e a maior de todas as crises - aquela que Jesus produz no homem - a crise da conversão. 


Podemos ver claramente essa "crise" acontecer em uma das mais fantásticas conversões do Novo Testamento, a de Zaqueu. Um homem rico, mal visto por todos, cobrador de impostos, possivelmente impiedoso (alguém já viu cobrador piedoso?), sem amigos verdadeiros, e com um "rótulo" intragável para a maioria das pessoas. Mas havia algo lá dentro dele que só Jesus conhecia e podia libertar. Jesus não apenas sabia o seu nome ao olhar para o alto da árvore, mas Jesus conhecia o seu potencial do que ele poderia "vir a ser". Se perguntássemos a Zaqueu até aquele dia quem ele era, a resposta seria - "eu sou um rico miserável, não sou feliz, sou um solitário, ninguém me ama e eu não amo ninguém". 

Na verdade há o que os "outros pensam" de nós; há o que "nós pensamos" e há o que Jesus diz quem eu sou. Somente diante de Jesus Cristo eu sou perfeitamente conhecido. Ele me revela o que sou na realidade.... e mais: revela aquilo que Ele sonha que sejamos. Somos o sonho de Deus. Havia algo dentro de Zaqueu que precisava ser curado. Conversão é cura. Cura das mazelas, cura das feridas, cura do passado, cura da totalidade do ser. Zaqueu jamais poderia dizer o que disse ("dou metade dos meus bens aos pobres e restituo quatro vezes mais a quem defraudei" ) se não tivesse passado por uma profunda conversão diante de uma mesa cheia de convidados. Não sabemos o que Cristo disse pra ele, mas com certeza Zaqueu foi confrontado, entrou em "crise" e tomou uma decisão. Chama a atenção a alegria e o desprendimento demonstrado. 

Quando sabemos o que somos em Cristo, não há espaço para o medo, para a reserva, para as meias palavras. Quem sabe o que é não tem nada a esconder. Esse encontro do meu ser com Cristo vai me ajudar na caminhada em busca de minha liberdade pessoal e quebrar as prisões interiores. É a possibilidade de mudar o comportamento.... não mais nos rejeitarmos... não mais nos conformarmos e acomodarmos... não mais fugir da realidade. Um dia Deus sonhou uma vida para nós. E essa vida só pode se concretizar quando nos conhecemos em Cristo.

p/: Daniel Rocha, pastor da Igreja Metodista em Itaberaba, S.Paulo e Psicólogo