segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ACAUTELAI-VOS DO FERMENTO DA MANIPULAÇÃO

"Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens," Apóstolo Paulo - (Col. 02.08).

"Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores." Jesus Cristo – (Mat. 07.15).

O termo "manipular" sugere a ação de manusear alguma coisa ou algum objeto.
Manipular gente é tratar pessoas como "coisas" ou "objetos", com o propósito de dominá-las e explorá-las.


Manipular pessoas é o ato de levar alguém a tomar decisões sem deixar transparecer que essa decisão irá beneficiar a outrem.

Manipular é induzir, é iludir as pessoas para levar vantagem e obter lucro. É enganar. É ludibriar para tirar proveito da "boa-fé", da inocência da ingenuidade do outro. Manipular é dominar. Desde que os homens descobriram que o domínio sobre o seu semelhante é fonte de poder e de prestígio, muitos deles sempre buscaram, por qualquer via, colocar-se sobre os seus semelhantes.

A força sempre foi o principal instrumento de domínio. No entanto, o progresso da civilização contribuiu para que surgissem outros instrumentos. A política desenvolveu a popularidade como instrumento de poder. Quem é popular ou exerce liderança, quem possui títulos, quem é inteligente, ou quem está em evidência, normalmente tem poder e domina. O capitalismo contribuiu para que surgisse o domínio através do poder financeiro. Quem tem dinheiro também tem poder, e domina.

O manipulador busca o domínio sobre outros homens, basicamente, para possibilitar a realização desses dois intentos egocêntricos e individualistas, o "ser" e o "ter". Manipula-se o outro, basicamente, para "ser", ou para "ter".

A busca desenfreada por fama, honras, títulos, reconhecimento público e notoriedade é produzida pelo encantamento do querer "ser". Ser reconhecido, ser popular e famoso é sinal de domínio, prestígio e sucesso. Reconhecimento popular é poder.

A escada hierárquica das instituições religiosas favorece a esse encantamento. No entanto, a Bíblia deixa bem claro que, nem sempre, reconhecimento popular é sinônimo de aprovação divina. As páginas bíblicas revelam que sucesso neste mundo não está associado à aprovação do Senhor. Ao contrário, em muitas ocasiões da história, vimos ministérios aprovados por Deus, mas sem qualquer reconhecimento público.

Se pensarmos em ministério de sucesso segundo a ótica do mundo, popularidade e fama seríamos obrigados a considerar o ministério de Cristo um completo fracasso.
O outro intento humano que tem provocado manipulações vergonhosas nos púlpitos evangélicos é a busca insensata por riquezas. É o encantamento pelo "ter".

É um sentimento acirrado pelo sistema capitalista e pelo consumismo exagerado que tomou conta da nossa sociedade. Nesse ambiente, a pessoa vale pelo que possui, pelo que tem, pelo que ostenta e pelo que aparenta. Ser rico é sinônimo de sucesso. Igreja de sucesso é igreja rica. Homem de Deus é aquele que desfila em carro de luxo e com roupas de griffe. Daí o surgimento de barbarismos doutrinários e teológicos como a apologia desenfreada à prosperidade.

A ganância pelo "ter" posses e bens neste mundo, cada vez mais leva líderes cristãos a formas grotescas de manipulação para induzir os crentes a contribuir para a igreja-instituição. Isto produz o descrédito do que se prega nessas igrejas.
Para manipular é preciso modificar a realidade, falsificar conceitos, "maquiar" mentiras e esconder verdades.

O manipulador, normalmente, não mente, mas desvia a verdade para o lado que lhe interessa. Ele não fala à nossa inteligência, e nem nos deixa utilizar a nossa capacidade de raciocínio. Pelo contrário, ele não respeita a nossa liberdade de decidir e nos arrasta, sorrateiramente, para pontos estratégicos, levando-nos a crer na sua "verdade", levando-nos a sentir emoções que nos desnorteiam e a tomar decisões que favorecem aos seus propósitos.

O manipulador religioso utiliza a Bíblia. Mas, normalmente, ele torce o sentido de trechos bíblicos para o sentido que lhe convém. Outras vezes, supervaloriza os versículos que dão suporte aos seus intentos e "fecha os olhos" para outros.

A maior arma do manipulador religioso é o discurso emotivo, que produz desequilíbrio emocional nos ouvintes. Esse tipo discurso, incisivo, apelativo, raivoso, mexe com as emoções das pessoas, aflora sentimentos de culpa, de piedade, de medo, de vergonha. O terror psicológico faz exacerbar emoções e sentimentos que impedem o raciocínio lógico e destroem as barreiras que o intelecto, em condições normais, colocaria para se opor ao discurso.

O manipulador que utiliza o apelo emotivo primeiramente "afaga" as tendências naturais das pessoas, apresenta-se com as mesmas idéias, as mesmas tendências ideológicas, elogia os ouvintes, se "sensibiliza", chora, esbraveja, ri. Desperta sentimentos e emoções com o objetivo cativar.

Sentindo que o manipulador pensa como a si, sente emoções como a si, o ouvinte acredita ter encontrado um amigo digno de total confiança, e se abre a tudo o que ele prega. Outras formas para se bloquear o senso crítico é falar de forma rápida e eloqüente, citar chavões e criar comparações. Falando rapidamente, o manipulador não dá tempo suficiente para o ouvinte processar a informação, ponderar, raciocinar e buscar as idéias controversas do discurso. Assim, o ouvinte acaba aceitando meias verdades como verdade.

Os chavões dão a impressão de verdades inquestionáveis. São frases soltas e infundadas, slogans, popularmente tidos como "verdades". O bombardeio diário de sentenças pré-fabricadas produzem um efeito psicológico que levam as pessoas a interromperem o raciocínio lógico e a aceitarem como "verdades" incontestáveis, aquilo que se diz por chavões.

Uma mentira, ou uma meia verdade, repetida por milhares de pessoas, ou por um poderoso meio de comunicação, ou sobre tribunas eclesiásticas, transformam-se, com o passar dos anos, em dogmas incontestáveis. É o que se chama de "lavagem cerebral". As defesas psíquicas vão, pouco a pouco, sendo minadas, e, muitas mentiras, sorrateiramente empanadas nos chavões, são aceitas como verdades indiscutíveis.

As comparações levam as pessoas a acreditarem que se determinado fato, ou situação é assim deste lado, seguramente será do mesmo jeito do outro lado. Um dia ouvi um "pastor" comparar os crentes com cavalos. Para ele, aqueles crentes que não aceitam os rudimentos da instituição são como cavalos bravos e saltadores, que não aceitam ser montados. E basta "apertar os arreios" que ele sai escoiceando e saltando.

Depois de várias analogias irônicas e sarcásticas, o "pastor" levou quase todos os ouvintes a aceitarem a idéia de que eles deveriam se deixar colocar as rédeas, os arreios, se deixar serem montados e serem conduzidos sem resistência pelos líderes da igreja. Quase todos aceitam esse tipo de comparação passivamente. Poucos raciocinam sobre as diferenças: homens são racionais, inteligentes, pensam, são iguais, livres. Por outro lado, não se vê um cavalo cavalgar outro. Poucos percebem a intenção manipuladora de se "encabrestar" e "amansar o potro xucro".

As idéias manipulativas são construídas sobre argumentos falsos, mentirosos, tendenciosos e interesseiros, e principalmente, apelam aos sentimentos, medos, fobias e fraquezas dos ouvintes. O pior é que poucas pessoas percebem que estão diante de idéias manipulativas, ou que estão sendo induzidas a fazer aquilo que o manipulador quer.

Observe a tentativa de manipulação que o diabo tentou fazer com Jesus. Ele utilizou trechos da Palavra de Deus. O uso da Bíblia dá uma sensação de segurança ao ouvinte. No entanto, o diabo usou o texto bíblico desfocado do seu sentido verdadeiro e usou-o num contexto em que se contrariava o propósito divino.

Os manipuladores religiosos também utilizam a Palavra de Deus, mas lhe dão o sentido que lhes favorece. E poucos crentes percebem a astúcia. O cristianismo sempre foi, e ainda é, um terreno fertilíssimo para o desenvolvimento de manipuladores. Sempre surgiu entre os cristãos, homens e instituições que, ao invés de liderarem mostrando exemplos de amor ao próximo, desprendimento material e abnegação; procuram demonstrar autoridade fundamentando-se na coação, na astúcia, na ameaça, e mais recentemente, na capacidade de induzir e seduzir as massas.

A manipulação é o primeiro passo para a dominação. Dominação conduz ao autoritarismo e à exploração moral e financeira. Não é por acaso que a liderança autoritária sempre foi a maneira de governar mais facilmente encontrada pelos líderes cristãos.

A manipulação religiosa que mais comumente se observa entre os crentes se dá de quatro formas: por intimidação, por sedução, por provocação e por tentação.

1º Manipulação por intimidação: Intimidar é obrigar, é ameaçar através de promessas de castigo ou retaliação. É um procedimento antigo das religiões distorcidas da doutrina cristã.
Enquanto a mensagem de Cristo é "servir por servir, e não para ser servido", os líderes autoritários querem ser servidos e idolatrados. E, utilizando de uma pseudo-supremacia sobre os demais crentes, intimidam para alcançar a aquiescência desses.

A intimidação pode ser direta ou indireta.

A intimidação direta é aquela ameaça explícita: "Se você não fizer do jeito que eu estou mandando..."

A intimidação indireta é aquela que não é dita clara e explicitamente, mas é percebida nas entrelinhas dos discursos. É uma ameaça velada, mas que pode ser percebida nos castigos e nas retaliações que se dá a alguns para servir de exemplo aos outros. É como se indiretamente avisassem: "Se fizer como ele..."

As ameaças de exclusão também são intimidações. Os discursos realçando os terrores do inferno, o poder destruidor do diabo, as maldições, o peso da mão de Deus, também carregam fortes doses de intimidação psicológica.

2º Manipulação por sedução: Ocorre com muita freqüência nas igrejas quando querem tirar algum proveito financeiro, oferta, apoio, ou coisa assim, dos crentes. Bajulam os ouvintes com frases do tipo: "Este povo é especial...", "o povo de Deus é isto ou aquilo...", "você é um crente assim ou assado...", "esta igreja mora em meu coração...", para depois apresentar os requerimentos.

É a mesma estratégia do fofoqueiro que enche você de elogios antes de começar a "puxar a sua língua".
Toda a bajulação é uma forma de sedução com a finalidade de se obter alguma vantagem.

3º Manipulação por provocação: É o tipo de manipulação que o diabo usou para tentar enganar Jesus: "Se você é Filho de Deus, ordene que estas pedras se transformem em pão".

Muitos pregadores vivem fazendo os mesmos desafios aos crentes, e nós caímos direitinho: "Se você é crente em Jesus dá Glória a Deus...., se você é fiel levanta a mão, vem aqui na frente ... se você é crente fiel traga uma nota de cinqüenta... etc."

Outra faceta deste tipo de manipulação é dizer às pessoas que a igreja está promovendo uma grande campanha e precisa de homens valorosos, pessoas de fé, crentes verdadeiros para fazerem votos especiais de doação, etc. É o mesmo recurso que o diabo utilizou.

4º Manipulação por tentação: O diabo usou também deste tipo de manipulação ao abordar Jesus: "Te darei os reinos deste mundo e toda a sua glória, se..."

Este é o tipo de manipulação mais utilizado por aqueles que querem tirar por ganância lucro dos fiéis . Normalmente se diz: "Se você der cem reais para a obra, Deus vai abrir a porta de um emprego...,""Se você contribuir com tanto, Deus vai fazer isto pra você...."

Leia a Bíblia e observe qual foi a reação de Jesus quando foi tentado desta forma. Aparentemente é uma verdade: você contribui e Deus te retribui. Só que não podemos esperar galardão neste mundo. Jesus rejeitou a glória deste mundo. E mais, para Deus te abençoar, a contrapartida é muito pequena, basta você crer e dizer sim ao Senhor. Se você não receber desta forma, não existe outra.

Este tipo de manipulação, aliada à sedução, também ocorre com relação aos títulos eclesiásticos. Normalmente seduz-se os cristãos supervalorizando os títulos eclesiásticos, proclamando que é preciso "subir no ministério".

Para finalizar, convém-nos traçar algumas linhas que diferenciam a pregação genuína da palavra de Deus de uma manipulação interesseira.

Simples: a manipulação é aquele tipo de discurso em que a pessoa busca satisfazer seus próprios interesses. A verdadeira pregação, ao contrário, não objetiva glórias ou recompensa para o pregador. É um discurso que procura o bem-estar, a cura, o conforto, a bem-aventurança espiritual do ouvinte. A pregação genuína busca a salvação do outro sem pedir nada em troca.
O único a sair ganhando será aquele que crer. A verdadeira pregação não exige nada em troca, antes dá liberalmente, busca o bem do próximo, a salvação do próximo, a libertação e a vida eterna para aqueles que estão perdidos.

Na manipulação, o maior ganho é sempre do manipulador, que visa à fama, à popularidade, à glória humana e às riquezas deste mundo. No discurso manipulativo há uma falsa troca, você dá não a Deus, mas ao manipulador, para Deus te dar. Ou seja, o manipulador recebe "à vista", e você receberá, dependendo do "crédito" que tiver com Deus.

CONCLUSÃO

Espelhemo-nos no comportamento do apóstolo Paulo:

"Pois, nunca usamos de palavras lisonjeiras, como sabeis, nem agimos com intuitos gananciosos. Deus é testemunha, nem buscamos glória de homens, quer de vós, quer de outros."(I Tess. 02. 05 e 06).
Esse texto é fragmento, capitulo do livro 'O Fermento dos fariseus'
autor:José Peres Junior

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