quarta-feira, 18 de maio de 2011

OS ESPELHOS DE NOSSA ALMA

Ao olharmos imagens refletidas nos espelhos, não vemos imagens exatas. Aliás, em certo sentido, reflexos não são realidades; são projeções da realidade. Podemos aprofundar um pouco mais esse raciocínio do sentido da realidade. Quando várias pessoas olham o mesmo objeto, elas o veem por ângulos diferentes e com interpretações diferentes. Elas veem um reflexo do que o objeto é. Com isso em mente, podemos dizer que ao olharmos a vida, o outro e a nós mesmos, temos, em geral, um entendimento muito particular de tudo.

Muitas vezes, nosso entendimento é completamente diferente do que realmente vimos. Por isso, a sabedoria nos ensina a enxergar o nosso mundo e o mundo dos outros, a fim de termos uma visão equilibrada e mais completa da vida. Em síntese, precisamos aprender a olhar.

É muito importante compreendermos qual imagem fazemos de nós mesmos, porque nem sempre essa imagem que temos de nós é verdadeira. Muitas vezes são impressões equivocadas. Por isso, demonstramos aos outros o que gostaríamos de ser, em vez daquilo que realmente somos. Por outro lado, por mais honesta que seja a nossa amostragem sobre nós mesmos, os outros sempre nos entenderão diferente, causando muito mal entendido entre as pessoas. Isso acontece porque, em geral, os outros nos vêem como eles são e não como nós verdadeiramente somos. As pessoas nos interpretam a partir delas mesmas.

Contudo, a imagem que deveríamos ter é a de Deus. A imagem de Deus não é uma ilusão de ótica existencial. É a nossa realidade. É a real imagem do ser humano. Que, você escolha o melhor da vida, que é a presença de Deus.

JOGO DE ESPELHOS

Precisamos sair em busca de nossa autocompreensão. A Janela de Johari é uma ferramenta que nos ajuda a compreender melhor essa dinâmica da personalidade. Existem quatro (4) lados em nossa alma. A parte de nós que todos conhecem é formada por nossa autopercepção. É a imagem que temos de nós e que passamos aos outros. Representa o que entendemos que somos e como somos. Essa janela é desenvolvida à medida que nossas relações se aprofundam. Quanto mais amizade sincera temos com uma pessoa, mais nos mostraremos a ela.



Há outra parte de mim que eu não enxergo. Sou cego para ela, mas os outros a enxergam. É uma área cega a nós, que mostramos inconscientemente. Ela é marcada pelas nossas reações e pelos nossos hábitos.


Há em nós uma parte que só Deus conhece, nem eu nem os outros conhecem. Esse é o lado de nossas motivações inconscientes, áreas inexploradas de nosso ser

“Cada um mente ao seu próximo; seus lábios bajuladores falam com segundas intenções.” (Salmos 12:2).


Há também a parte que nós escondemos. É o que conhecemos de nós mesmos, mas não revelamos por medo de sermos rejeitados. Assim, evitamos mostrar alguns aspectos de nossa personalidade para que a imagem que planejamos passar não seja distorcida. É a nossa parte secreta. São nossas sombras conscientes, defeitos de caráter que ocultamos para evitar opiniões que não gostaríamos de receber.

Tudo isso está em nossa alma e faz com que nossa vida seja, muitas vezes, como um jogo de espelhos, que ora reflete a imagem que desejamos passar, ora a imagem que passamos sem perceber. Muitas vezes, nosso comportamento é tal como um número dos circos antigos, apresentando a mulher que se transformava em gorila, usando apenas a luz e o jogo de espelhos.

Portanto, precisamos ter consciência do que realmente somos aos nossos olhos, aos olhos de outros e, primeiramente, aos olhos de Deus.

IMAGENS DISTORCIDA

As coisas da alma não são objetivas. Estas áreas não prática. Está tudo misturado em nossa alma como Rubik ou cubo mágico como ficou conhecido aqui no Brasil. Todas as áreas de nossa alma estão misturadas. Para vivermos em grupo, seja em casa, no trabalho, é preciso humildade, porque essa diversidade que está no exterior juntamente com a complexidade de nosso imagens que fazemos dos outros e, consequentemente, a imagem que os outros fazem de nós estão distorcidas. São quebradas, sujas e tortas, com uma infinidade de possibilidades.

Essa diversidade é a causadora das mais diversas decepções entre casais, amigos ou no ambiente do trabalho. A questão é que nós interpretamos demais o interior dos outros. Além de aprendermos a olhar para nós mesmos e para os outros, precisamos entender como nossos relacionamentos são afetafetados por estas distorções.


Muitas tensões acontecem quando nos sentimos diminuídos Mesmo que isso não seja verdade, nosso senso temos todas as defesas possíveis, impossibilitando uma relação honesta e franca. O amadurecimento na área relacional inicia autoengano. Encarar o que é real, sem idealizações ou fantasias, é a única forma de tomar as decisões que nos farão evoluir e crescer.

“Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e fala somos membros de um mesmo corpo.” (Efésios 4:25)

IMAGENS ESTILHAÇADAS

Saber que todo ser humano tem dentro de si luzes e sombras, como disse Machado de Assis, ajuda-nos a ser mais justos nas relações. Podemos olhar os outros sem idealizações, compreendendo que, muitas vezes, ao se sentirem afrontadas, as pessoas levantam suas defesas e com elas suas sombras e seus defeitos de caráter.

O relacionamento conjugal, por exemplo, muitas vezes entra em conflito porque enxergamos o outro pela lente de um ideal. Isso rouba de nós a oportunidade de amar e conviver com uma pessoa real. Brigamos quando a pessoa foge do padrão que dizemos ser o ideal.

Assim, muitos cônjuges amargam seu sofrimento, porque vivem debaixo de uma constante pressão e auto vigilância. Ficam infelizes porque não se sentem amadas. Contudo, não se sentem amadas por uma questão de reflexo. A imagem do espelho não é a imagem real, mas seu cônjuge insiste em relacionar-se com a imagem e não com a pessoa real.

“Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que dever ter: mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu.” (Romanos 12:3).

Quando descobrimos que aquela pessoa a quem achávamos ser acima de qualquer suspeita é um pecador comum como todos os outros, acontece uma grande decepção. A imagem dessa pessoa fica partida e estilhaçada como um espelho que se quebra no chão. Isso é porque estávamos nos relacionando com um reflexo e não com uma pessoa.


Aumentamos ou diminuímos demais a imagem das pessoas. Por isso, Paulo nos orienta: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que dever ter: mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu. (Romanos 12:3). Não pense de si além do que convém.

ESPELHOS DEFORMADOS

Para viveremos em harmonia com os outros precisamos nos relacionar com as pessoas onde elas estão e não onde queremos que elas estejam. Todo tipo de relacionamento precisa levar em conta o outro. O agravante é que, individualmente, já temos dentro de nós um universo de definições. Por isso, fica mais complicado não se desviar do objetivo. Por exemplo, eu penso que sou de um jeito. Contudo, tenho atitudes muitas vezes diferentes do que eu penso e sou, mas ainda quero aparecer bem no filme.

Precisamos da verdade reinando em nós. Sem exaltação pessoal mas buscando a verdade as relações são possíveis: marido e mulher, filhos e pais, patrões e empregados. Quanto menos imagens distorcidas existirem, melhor será a relação e maior crescimento haverá nessas relações. Muitas vezes nos encontramos insatisfeitos e desejamos mudanças algo que nos redima de nós mesmos. Queremos morrer e nascer de novo. Queremos mudar.

“Aquele que ouve a palavra, mas não põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência.” (Tiago 1:23-24).

A humanidade é convocada pela mídia a ter uma imagem copiada de acordo com o que estiver em alta no momento. Muda-se de gosto de acordo com o novo ditame da moda ou das novelas. Queremos ser como uma celebridade tal ou ter o corpo do modelo “X”.


Além disso, há uma exigência altíssima do padrão profissional e deseja-se uma pessoa com o estilo que anuncie o sucesso. Assim, tudo vai mascarando nossa vida e assumimos as características do que não somos mais do que os outros querem que sejamos. Essa pressão funciona como um espelho deformador, que nos impede de ser quem realmente somos.

Há muitos espelhos deformadores da nossa imagem, mas há um espelho revelador que nos conduzirá a toda a verdade: o Espírito Santo. Primeiramente, Ele nos ajudará a enxergar a nós mesmos. Ajudar-nos-á a enxergar áreas de nossa vida, que sozinhos não conseguiríamos enxergar. Ele faz isso com leveza e aceitação, ao mesmo tempo em que nos motiva a avaliar no que estamos nos tornando.

O ESPELHO REVELADOR

Olhe para você e perceba que sua verdadeira imagem é a de Deus. Fomos criados à Sua imagem e semelhança. Os teólogos usam a expressão latina “IMAGO-DEI” para se referirem a esse fato. Todos nós nascemos com esses traços que nos identificam com Deus. Por isso, podemos amar, somos capazes de escolher entre os ditames de nossos instintos e de nossa moral. Somos seres éticos porque estes são traços da imagem de Deus.

Também, somos seres desejosos e livres. Por isso, o nosso desejo de andar sem o Deus que nos criou, levou-nos a escolher caminhos degenerativos desta imagem em nós. Muitas vezes, caminhamos segundo nossos instintos e de acordo com nossos sentimentos em desarmonia. Isso faz da vida de muita gente um inferno.

Então compreendemos que existem dois (2) tipos de espelhos existenciais neste mundo: o que reflete em nós a imagem distorcida de nosso mundo e o que reflete a imagem de Deus. A pergunta chave é: qual destas imagens eu quero ter? Primeira Coríntios 13 nos mostra que a restauração da imagem de Deus é um processo contínuo de espelhamento, por meio de nossas escolhas e de nosso crescimento espiritual:

“Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido.” (I Coríntios 13:12)

Somente através do desenvolvimento do amor é que nossa imagem será restaurada e aprenderemos a lidar com as sombras dos outros. Portanto, amor não é algo pronto, como um fast-food. Não é um pacote que recebemos do Céu. Amor, para ser amor verdadeiro, precisa ser aperfeiçoado. Precisamos aprender a amar. Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele. (1 João 4:17)

O Espírito Santo é quem nos ensina a amar de forma prática. Ele cuida de nossa alma. Contudo, isso somente ocorre através de nossa relação com Ele. Um cristão nominal ou frio na sua fé jamais aprenderá o caminho do amor. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós. Sabemos que permanecemos nEle, e Ele em nós, porque Ele nos deu do seu Espírito. (I João 4: 11-13).

Em outras palavras, o amor que vem de Deus é aperfeiçoado em nós à medida que praticamos o amor aos outros.

Por: Pr. Domingos Alves

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